O termo respeito é derivado do latim respectus, que corresponde ao uso do substantivo do particípio passado do verbo respicere, cujo significado literal é “olhar para trás”, “olhar de volta”, “considerar”. Do latim re – de novo, e spicere – olhar.
Neste sentido, eu acredito que cultivarmos o autorrespeito é podermos olhar com generosidade para pontos de nós mesmos para termos uma outra visão, voltar o olhar novamente para considerar aspectos que não foram considerados, com gentileza. Voltar o olhar para a nossa história é reconhecer o valor que ela possui, e isso tem a ver com respeito, pois respeito tem a ver com “ser digno de consideração “. É poder analisar detalhadamente, observar, averiguar, assumir que é uma história legítima. É dar-se conta de tudo o que foi vivido e realizado. Não é fácil!
Nossas histórias são compostas de dores e alegrias, encontros e desencontros, perdas e conquistas, erros e acertos, medos e esperanças, frustrações e plenitudes. Diversos momentos, experiências, circunstâncias e oportunidades e escolhas vão configurando as narrativas dos nossos dias. São capítulos de histórias que vão se dando e nos envolvemos em uma rica e complexa narrativa. Muitos acontecimentos e circunstâncias do cenário não estão sob o nosso controle, acontecem. Por outro lado, muitos enredos são frutos de nossas escolhas, atitudes e disposições.
Olhar de novo para a nossa história é reconhecer o que foi construído e vivido. Por vezes há sentimentos de culpa, vergonha, arrependimento, insatisfação, mágoa, raiva, decepção. Por vezes lágrimas derramamos e nos entristecemos. Outras vezes, apreciamos com orgulho, amamos a narrativa, nos deleitamos com as lembranças e nos permitimos gargalhar, sentimos satisfação, com o que foi vivido, e entusiasmo.
É fato, nossa história nos trouxe até aqui hoje, através dela nos tornamos quem somos e por ela atravessaremos a ponte para o outro lado, o lado que ainda queremos viver. Há ponte! Há caminhos! A história segue. Um capítulo termina, outros começam. Mas, para seguir adiante sem nó a sufocar a garganta é preciso nos reconciliarmos com nossa história: acolher os machucados, cuidar das feridas, desidentificar-se com as estigmatizações ocorridas, e se afastar das violências sofridas, e compreender os ciclos, e aprender com o percurso. É preciso também reconhecer os pontos fortes, as habilidades desenvolvidas, as atitudes sábias, as potências pessoais, a nossa marca única no mundo e o que fez e faz sorrir. É poder dizer: eu reconheço a minha história.
Há que se perdoar, há que se vislumbrar em novos dias. O sol continua a nascer e ao amanhecer o galo canta, as cabras correm para se alimentar do verde, as janelas se abrem, vozes ressoam nas ruas, mãos varrem a calçada, há buzinas, há crianças. Um mundo a se compartilhar! Há que se dar esse abraço!