Não é sobre o medo de estar perdendo algo, mas sobre achar que irá perder uma coisa muito boa e que vai se arrepender para o resto da vida. Primeiro é achar que vai perder, depois achar que vai se arrepender, depois imaginar os prejuízos que terá ao perder e achar que vai perder “a melhor coisa da vida”. Isso faz parte, nos ajuda a pensar as coisas para ponderar. É fato, é preciso muita ponderação! Mas além desse medo, está aquele outro medo que nos faz hesitar e nos paralisa para agir. E aquele medo que vem depois de agir, a insegurança sobre se fez a escolha certa ou não.
Esses medos todos, vez ou outra, nos assaltam quando surgem situações em que precisamos escolher entre uma coisa e outra. Ninguém quer trocar uma bicicleta por um queijo. Ops… é verdade que em certas circunstâncias mais vale ficar com o queijo. Mas digamos que a bicicleta seja mais legal do que um queijo, como fica isso? Eu mesma já troquei uma “bicicleta” por um “queijo” achando que estava fazendo o melhor. A gente se equivoca em nossas convicções. Dentro da avaliação que eu fiz na época, considerei que aquilo que as pessoas estavam chamando de “bicicleta”, para mim, era um grande “queijo”. O que elas achavam que era um queijo da furada eu olhava e via a bicicleta dos sonhos. Aí depois descobri que era o grande queijo da furada. E dessa vez, por incrível que pareça, senti o maior medo de sair fora daquele queijo da furada. Interessante não é? Parece que a gente se perde nos critérios e precisamos olhar e dizer “confia, tá sentindo o cheiro de queijo? É queijo da furada”. É preciso muita ponderação! E aí é bem mais legal ouvir “eu te ajudo a levantar dessas nuvens de bicicletas” do que um ríspido “bem que te avisei”, não é?
Que história é essa de queijo e bicicleta? O que eu estou tentando dizer com muita dificuldade sobre queijos e bicicletas é que tudo tem que ser bem avaliado e nem sempre as coisas parecem ser como são. Nós precisamos ficar bem atentos para ouvir fatos e fenômenos e intuições. E nem sempre acertamos! Por isso a vida é um constante aprender, construir, refazer o caminho e RECONSTRUIR. Por isso eu gosto muito da psicoterapia, ela nos ajuda a reconstruir o que ficou arrasado pelo caminho.
Construção é uma capacidade humana. E nesta capacidade para construir também somos dotados ou vamos nos dotando a ter critérios para avaliar as coisas. Nós temos critérios para tocar essências. Eu também já tive muitas bicicletas legais! Quando pensamos sobre querer o melhor, estamos pensando no que é essencial para nós, o que faz uma coisa ganhar muitos pontinhos em relação à outra. Essencial, aquilo que está na estrutura, tipo rodas de bicicleta, que sem elas não dá para andar.
Diante de uma situação de angústia e indecisão sobre “ficar ou partir” vale se perguntar “o que há de essencial nas situações que faz com que um lado possa ganhar mais pontinhos do que outro?”. O que me faz preferir uma bicicleta a um queijo ou um queijo a uma bicicleta? E onde está o queijo real desta história e onde está a bicicleta real? É preciso compreender os critérios e tocar essências. As vezes a coisa não se mostra como tal, ou por algum motivo, não a vemos como tal.
Nem sempre temos clareza de nossos critérios. A dúvida é justamente aquilo que nos indaga e faz abrir nossas percepções. Que critérios não estão claros para que eu duvide se quero isto ou aquilo? Além dos critérios, existe uma outra coisa envolvida que é a incerteza. Não temos garantias do que será e do que poderia ter sido. O “será” e o “mas e se” tanto podem nos ajudar como nos perturbar. Outra questão envolvida é que além de buscar critérios para avaliar e de compreensão sobre as incertezas é buscar ter forças e coragem para impulsionar as ações.
As vezes temos critérios, já entendemos que não há garantias, mas a gente não tem forças para agir e sustentar uma decisão. Sair de um lado para ir a outro fica super difícil. Ou, as vezes temos força para agir mas nenhuma compreensão sobre os critérios e se são bons critérios e, normalmente, neste caso, a gente não costuma temer e isso é também um perigo. As vezes temos os critérios, temos força e condições propícias, mas admitir as incertezas nos chateia e a gente hesita e é dizer “apesar das incertezas, como eu resolvo isso?”.
Ficar no relacionamento ou partir? Ficar no emprego ou buscar outro? Ficar neste curso ou mudar para outro? Fazer parte deste grupo ou ir para outro? Engajar-se em obter respostas que nos faz sentir e dizer “eu decidi”, com consciência, nem sempre é fácil. Um tanto de pensar para avaliar e escolher. É bom não ignorar o que é essencial. Muitas vezes a pessoa me diz “será que isso vai ser o melhor?” e eu pergunto “como estão seus critérios nesta balança?”.
Em um momento de insegurança, uma pessoa me diz algo do tipo “acho que perdi, escolhi errado em ter saído” e pergunto ” você gostaria de estar lá?” e a pessoa responde “não, daquele jeito não”. Então, é legal rever o processo que levou à escolha. E se um dia constatar uma má escolha real que lance arrependimento, acolher a dor, e engajar-se em reconstrução.
Sabe, nada acontece igual para todo mundo. Queijo ou bicicleta é algo que cada um vai precisar olhar e rever bem de perto.
Ana Terra Araújo de Oliveira